quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Programa JazzLAC (95.5 FM) de segunda, 01 de Fevereiro de 2010


No programa JazzLAC do dia 14 de Dezembro de 2009, tivemos com o grande pianista Keith Jarrett um encontro que vamos reeditar, para gáudio de todos os jazzlovers que nos brindam com a sua escuta na Rádio LAC (96.5 FM) e com a sua leitura neste blog.
Recordamos que Jarrett assinou um belo trabalho, editado pela ECM e intitulado "Testament Paris/London".
Nesta edição do JazzLAC, serão tocados os compassos da Part 2 desse incontornável testemunho da grandeza deste nosso convidado.
CONHECER KEITH JARRETT…
A prestigiada revista americana "Down Beat", uma das bíblias a que os jazz lovers recorrem quando a ansiedade provocada pela carências informativas os invadem, instituiu num já longínquo 1952 um "Hall of fame" para que os seus leitores pudessem escolher os melhores discos e músicos do ano, e assim consagrar os seus ídolos antes da partida definitiva.
Não custa muito imaginar que o primeiro músico a conquistar tão invejável troféu tenha sido o saudoso e corpulento Louis Armstrong – um génio, um inovador, um triunfo, um trunfo, uma das maiores figuras do Jazz do século XX, como sabemos.
Num gesto de reconhecimento, entre muitos outros, a sua cidade natal - New Orleans - baptizou o seu aeroporto internacional local com o nome do trompetista, cantor, compositor, e também autor de um livro delicioso, diria mesmo imprescindível "My life in New Orleans". Oiçam-lhe a música, mas leiam-lhe as estórias.
Entretanto, a partir de 1961, a Down Beat decidiu alargar esta decisão aos críticos, aqueles que por ofício - e amor - divulgam esta música. Em 1961, os leitores num gesto louvável fizeram justiça a Billie Holiday ( 1915- 1959) – a voz do Jazz da voz, e os críticos elegeram o saxofonista Coleman Hawkins (1901- 1969), que já com barbas grandes e crescidas, foi envelhecendo com a dignidade de um "leão velho", tocando ao lado dos "young lions", Thelonius Monk, Sonny Rollins e Herbie Hancock, que subiriam igualmente ao podium do "Hall of fame" pelos críticos em 1963, 1973 e 2005, respectivamente; actos elementaríssimos de justiça.
Quando 2008 já tocava as últimas notas, acabaria, entretanto, por fazer justiça a um dos pianistas mais estimulantes da actualidade: Keith Jarrett, que arrebatou a maior parte dos votos dos leitores desse ano.
Ainda hoje devo confessar baixinho a minha alegria. Há muito que sigo o trajecto deste músico inovador, que sobrevoa toda a história do piano; desde as suas origens – Scott Joplin - mas também os impressionistas franceses e outros compositores clássicos mais modernos.
Uma certa crítica coloca em causa a sua originalidade.
A audição atenta das pérolas do seu invejável acervo permite constatar um fraseado de uma elegância extrema, que se baseia em longas, belas e intermináveis torrentes de notas. Dotado de uma técnica apuradíssima, que lhe permite namoriscar Mozart e Shostakovitch, e mergulhar no universo romântico de Schuman, o pianista cultiva igualmente a memória do seu passado (desconfiem dos músicos sem memória, cá…e lá), daí que Jarrett também integre ao jogo moderno o Blues e o Gospel, de forma notável.
Jarrett é a arte do refinamento total.
Oiçam " Facing you", "The Koln Concert" e tudo o que gravou em trio com Gary Peacock (contrabaixo) e Jack DeJohnette (bateria), no quadro do Trio Standards formado em 1983, que ainda hoje persiste, mais de vinte discos depois - e confirmarão:
-Música surpresa, hiper-lírica, excepcional e delicadamente burilada, espiritualista, mas ao mesmo tempo carnal e profunda. Como o bom Jazz.
Jarrett: o lapidador das notas do piano.
No Jazz, na música improvisada, o seu lugar é inequívoco: entre os melhores!

Sobre TESTAMENT – Paris / London
ECM CD Triplo 2009
Gravado ao vivo a solo (improvisações sem rede editadas em disco Part1, Part2…, e onde Keith Jarrett deambula por tudo ou quase tudo: entre trechos de melodias tradicionais americanas, aos Blues, à música barroca e á clássica erudita contemporânea, aios standards caros ao Jazz, ou aos ostinatos que fizeram o sucesso do Concerto de Colónia) entre Paris e Londres no final de 2008, este é, do meu modesto ponto de vista, uma das grandes obras da primeira década do milénio; tão definitiva e incontornável quanto o tinham sido para a década de 70 o disco solo de estúdio “ Facing You” (1971), os “Solo Concerts: Bremen / Lausanne (1973) e “The Koln Concert” de 1975, e para a década de 90 o “At the Blue Note” de 1995 para o Trio Standards com Jack DeJohnette (bateria) e Gary Peacock (contrabaixo).
“Testament” não é uma síntese, nem um apontamento ou derivação: ele é realmente o Jarrett todo; o legado.

É um genuíno e notável exercício de Jazz onde Keith Jarrett explora o folclore (os folclores, o que inclui os imaginários) universal, da forma mais pessoal e íntima possível, longe de modas e modelos e convenções; da forma mais sincera imaginável: como se fosse morrer no momento seguinte e o soubesse.

TESTAMENT não é um disco vulgar, mais um disco de Jazz; é o trabalho do mais emocionante e genial músico de Jazz dos nossos dias.

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